Heródoto Barbeiro desfilou sabedoria em sua palestra da Semana de Comunicação |
Texto: Márcia Leite / Égon Ferreira
Edição: Amanda Campoy
Fotos: Giselle Diaz
As tréguas do frio e do trânsito – marcadores em 17º e menos de 30km de congestionamento, performance abaixo da média para o horário, às 9h30 – associada ao desejo do público em conhecer o palestrante e compreender, não só a expressão ‘desintermediação jornalística’, mas também o futuro do jornalismo, foram, certamente, alguns dos principais influenciadores da bela vista do auditório lotado nesta manhã de quinta-feira, 19/5, no quarto dia da 11ª Semana da Comunicação das FRB.
As redes sociais transformaram o leitor e a mídia, é fato. E a imprensa onde fica nessa rede? Foram com estas questões, que o jornalista Heródoto Barbeiro abriu a palestra para uma platéia de olhos vidrados em atenção. As mais de 250 pessoas – muitas delas com máquinas fotográficas e filmadoras para registros pessoais – que participaram da palestra “Novas mídias e a desintermediação jornalística” foram levadas a mergulhar, durante 1h30 no universo da reflexão sobre as transformações sociais que vêm ocorrendo no mundo e que foram trazidas pelas redes sociais, apontadas por Heródoto Barbeiro como as grandes responsáveis pelo processo de revolução vivido nas duas últimas décadas.
Para mostrar que veio disposto a tirar seus espectadores da zona de conforto, Heródoto abriu a palestra dando um recado inicial. “Os jornalistas e comunicadores, em vez de olhar o que está acontecendo no mundo, estão olhando para o próprio umbigo. E isso precisa mudar. E precisa mudar agora”, disse.
Ao estabelecer paralelo com uma famosa fábula budista, religião à qual o jornalista-autor é adepto, reforçou, mais uma vez, a necessidade de os profissionais de comunicação de modo geral, e dos jornalistas, em particular, levantarem a cabeça e começar a quebrar os paradigmas. “Nós estamos indo para o final do jornal impresso em tinta e papel. Mas isso não significa que o jornal e/ou o jornalismo vai morrer. Ele continua sendo impresso em bites e bytes”, disse, explicando como a revolução tecnológica vivida hoje na internet quebra paradigmas e coloca as plataformas digitais em um lugar estratégico. “Muito mais do que lazer, nós temos em mãos instrumentos de força extraordinária”, disse, referindo-se ao poder das plataformas como Twitter, Facebook e blogs.
Aprofundamento da democracia
Sabidamente, as novas tecnologias e as inúmeras oportunidades na web transformam os cidadãos, que antes eram puramente receptores de mensagem, também em emissores. “Estas plataformas digitais são responsáveis pelo aprofundamento da democracia. Hoje não é preciso de autorização do governo e nem de um deputado corrupto para abrir, na web, sua própria emissora. Quando se coloca na internet, o veículo se globaliza e vai para qualquer lugar do mundo. Não dá mais para segurar a informação”, falou, em tom enfático.
O tema é tão atual, de relevância e impacto social sem precedentes, que a universalização e o direito de acesso à banda larga virou política pública. “A internet não é mais privilégio, é política pública. Em outras palavras, fora da internet, não tem nada”, alertou, lembrando que hoje, entre 250 e 300 mil pessoas entram na web no Brasil.
Ao falar sobre o fenômeno e a força que a internet tem hoje, o palestrante destacou que "para mim, a internet tem duas imagens representativas. A primeira é a de um buraco negro que suga tudo ao seu redor. E a segunda é a de um punhado de areia que, quanto mais se aperta, mais se esvai das mãos”.
Na história da comunicação, o rádio levou cerca de 38 anos para atingir a marca de 50 milhões de usuários. A TV, 13 anos. Os computadores, quatro anos. E o grande fenômeno Facebook, apenas nove meses. Em termos de política e economia, essa velocidade significa audiência, ação e influência. “A transformação tecnológica é o meio. O fim é o conteúdo, informação, notícia ou qualquer outra coisa de ordem intelectual”, ressaltou, explicando que, a partir de agora, o que diferencia um veículo de outro é o conteúdo e a credibilidade, ética e compromisso com a verdade.
Heródoto durante a palestra da 11ª Semana de Comunicação |
Militante do jornalismo na sua mais pura forma, Heródoto Barbeiro diz que o jornalismo nunca vai morrer porque jornalismo é jornalismo, independente da plataforma. Cada pessoa que precisa se informar corretamente vai ouvir, ler e assistir os canais e profissionais que têm credibilidade e ética, com pautas amplamente apuradas, informações checadas e apresentação de fontes diferenciadas. Trocando em miúdos, o recado passado lembra que o elemento que separa o joio do trigo é a credibilidade, que passa a ser o grande avaliador do profissional e do veículo, independente da plataforma e do canal.
O jornalista dono de uma vozes mais reconhecidas do rádio brasileiro diz que neste novo modelo, chamado de ‘jornalismo social’, as possibilidades se abrem na frente dos profissionais-comunicadores atentos. O que muda, é que somos, como cidadãos, fontes de informação jornalística. E, como resultado, além da autonomia, temos a personalização jornalística. “O jornalismo social tem um novo alcance, promove e difunde das novas mídias, traz novos geradores de conteúdo e provoca um novo timing na notícia, onde a notícia velha não é mais a de ontem, é a de 5 minutos atrás”, disse.
A mudança, o presente e o futuro
Heródoto Barbeiro destaca que o leitor não depende da imprensa como antes e que, por isso, já não existe mais 100% de necessidade de jornalistas como produtores de conteúdo. “E isso não tem nada a ver com a formação. É óbvio que quem quer ser jornalista precisa da academia para aprender a fazer jornalismo”, alertou, destacando que o ‘novo’ jornalista precisa refletir, entender como vai mudar a vida e a sociedade em que vive – para o bem e para o mal.
Heródoto Barbeiro participou da 11ª Semana de Comunicação |
De acordo com o palestrante, um dos grandes desafios do presente é saber tirar proveito, potencializar a relação fonte-canal-cidadão, misturar convergências, promover experimentação, aproveitar as oportunidades e organizar o caos da informação, que tende a piorar. “Muito mais do que modismo, as novas tecnologias se transformaram em ferramentas e instrumentos de comunicação. A função dos jornalistas, hoje, não é mais formar opinião. Ele é o apurador dos fatos, responsável por permitir que as pessoas formem, sozinhas, suas próprias opiniões. Não adianta mais o jornalista contar história. É fundamental conversar, engajar o público e provocar o debate”, finaliza.
4 comentários:
Em 1h30 de palestra, Heródoto nos fez rever uma série de conceitos - ou preconceitos.
Muito bom, mesmo.
Palestra fenomenal. Além de ser um profissional incrível, Heródoto é uma figura comprometida com a qualidade do jornalismo.
Um batalhador, inspiraçãopara todos nós, estudantes de comunicação!!!
Larissa,
Nós da equipe Profissão Foca, ficamos felizes por você ter gostado da palestra apesentada. Continue acessando nosso Blog.
Att. equipe profissão foca
"Comer, degustar e viver "
Muito obrigada pelo comentário.
Att. equipe profissão foca
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