“O jornal impresso vai acabar”, diz Heródoto Barbeiro, levando o público à reflexão na manhã de hoje, na 11ª Semana da Comunicação

quinta-feira, 19 de maio de 2011 4 comentários
Heródoto Barbeiro desfilou sabedoria em sua palestra da Semana de Comunicação




Texto: Márcia Leite / Égon Ferreira
Edição: Amanda Campoy
Fotos: Giselle Diaz



As tréguas do frio e do trânsito – marcadores em 17º e menos de 30km de congestionamento, performance abaixo da média para o horário, às 9h30 – associada ao desejo do público em conhecer o palestrante e compreender, não só a expressão ‘desintermediação jornalística’, mas também o futuro do jornalismo, foram, certamente, alguns dos principais influenciadores da bela vista do auditório lotado nesta manhã de quinta-feira, 19/5, no quarto dia da 11ª Semana da Comunicação das FRB.


As redes sociais transformaram o leitor e a mídia, é fato. E a imprensa onde fica nessa rede? Foram com estas questões, que o jornalista Heródoto Barbeiro abriu a palestra para uma platéia de olhos vidrados em atenção. As mais de 250 pessoas – muitas delas com máquinas fotográficas e filmadoras para registros pessoais – que participaram da palestra “Novas mídias e a desintermediação jornalística” foram levadas a mergulhar, durante 1h30 no universo da reflexão sobre as transformações sociais que vêm ocorrendo no mundo e que foram trazidas pelas redes sociais, apontadas por Heródoto Barbeiro como as grandes responsáveis pelo processo de revolução vivido nas duas últimas décadas.


Para mostrar que veio disposto a tirar seus espectadores da zona de conforto, Heródoto abriu a palestra dando um recado inicial. “Os jornalistas e comunicadores, em vez de olhar o que está acontecendo no mundo, estão olhando para o próprio umbigo. E isso precisa mudar. E precisa mudar agora”, disse.


Ao estabelecer paralelo com uma famosa fábula budista, religião à qual o jornalista-autor é adepto, reforçou, mais uma vez, a necessidade de os profissionais de comunicação de modo geral, e dos jornalistas, em particular, levantarem a cabeça e começar a quebrar os paradigmas. “Nós estamos indo para o final do jornal impresso em tinta e papel. Mas isso não significa que o jornal e/ou o jornalismo vai morrer. Ele continua sendo impresso em bites e bytes”, disse, explicando como a revolução tecnológica vivida hoje na internet quebra paradigmas e coloca as plataformas digitais em um lugar estratégico. “Muito mais do que lazer, nós temos em mãos instrumentos de força extraordinária”, disse, referindo-se ao poder das plataformas como Twitter, Facebook e blogs.


Aprofundamento da democracia
Sabidamente, as novas tecnologias e as inúmeras oportunidades na web transformam os cidadãos, que antes eram puramente receptores de mensagem, também em emissores. “Estas plataformas digitais são responsáveis pelo aprofundamento da democracia. Hoje não é preciso de autorização do governo e nem de um deputado corrupto para abrir, na web, sua própria emissora. Quando se coloca na internet, o veículo se globaliza e vai para qualquer lugar do mundo. Não dá mais para segurar a informação”, falou, em tom enfático.


O tema é tão atual, de relevância e impacto social sem precedentes, que a universalização e o direito de acesso à banda larga virou política pública. “A internet não é mais privilégio, é política pública. Em outras palavras, fora da internet, não tem nada”, alertou, lembrando que hoje, entre 250 e 300 mil pessoas entram na web no Brasil.


Ao falar sobre o fenômeno e a força que a internet tem hoje, o palestrante destacou que "para mim, a internet tem duas imagens representativas. A primeira é a de um buraco negro que suga tudo ao seu redor. E a segunda é a de um punhado de areia que, quanto mais se aperta, mais se esvai das mãos”.


Na história da comunicação, o rádio levou cerca de 38 anos para atingir a marca de 50 milhões de usuários. A TV, 13 anos. Os computadores, quatro anos. E o grande fenômeno Facebook, apenas nove meses. Em termos de política e economia, essa velocidade significa audiência, ação e influência. “A transformação tecnológica é o meio. O fim é o conteúdo, informação, notícia ou qualquer outra coisa de ordem intelectual”, ressaltou, explicando que, a partir de agora, o que diferencia um veículo de outro é o conteúdo e a credibilidade, ética e compromisso com a verdade.


Heródoto durante a palestra da 11ª Semana de Comunicação




Militante do jornalismo na sua mais pura forma, Heródoto Barbeiro diz que o jornalismo nunca vai morrer porque jornalismo é jornalismo, independente da plataforma. Cada pessoa que precisa se informar corretamente vai ouvir, ler e assistir os canais e profissionais que têm credibilidade e ética, com pautas amplamente apuradas, informações checadas e apresentação de fontes diferenciadas. Trocando em miúdos, o recado passado lembra que o elemento que separa o joio do trigo é a credibilidade, que passa a ser o grande avaliador do profissional e do veículo, independente da plataforma e do canal.


O jornalista dono de uma vozes mais reconhecidas do rádio brasileiro diz que neste novo modelo, chamado de ‘jornalismo social’, as possibilidades se abrem na frente dos profissionais-comunicadores atentos. O que muda, é que somos, como cidadãos, fontes de informação jornalística. E, como resultado, além da autonomia, temos a personalização jornalística. “O jornalismo social tem um novo alcance, promove e difunde das novas mídias, traz novos geradores de conteúdo e provoca um novo timing na notícia, onde a notícia velha não é mais a de ontem, é a de 5 minutos atrás”, disse.


A mudança, o presente e o futuro
Heródoto Barbeiro destaca que o leitor não depende da imprensa como antes e que, por isso, já não existe mais 100% de necessidade de jornalistas como produtores de conteúdo. “E isso não tem nada a ver com a formação. É óbvio que quem quer ser jornalista precisa da academia para aprender a fazer jornalismo”, alertou, destacando que o ‘novo’ jornalista precisa refletir, entender como vai mudar a vida e a sociedade em que vive – para o bem e para o mal.


Heródoto Barbeiro participou da 11ª Semana de Comunicação




De acordo com o palestrante, um dos grandes desafios do presente é saber tirar proveito, potencializar a relação fonte-canal-cidadão, misturar convergências, promover experimentação, aproveitar as oportunidades e organizar o caos da informação, que tende a piorar. “Muito mais do que modismo, as novas tecnologias se transformaram em ferramentas e instrumentos de comunicação. A função dos jornalistas, hoje, não é mais formar opinião. Ele é o apurador dos fatos, responsável por permitir que as pessoas formem, sozinhas, suas próprias opiniões. Não adianta mais o jornalista contar história. É fundamental conversar, engajar o público e provocar o debate”, finaliza.

4 comentários:

  • Larissa disse...

    Palestra fenomenal. Além de ser um profissional incrível, Heródoto é uma figura comprometida com a qualidade do jornalismo.

    Um batalhador, inspiraçãopara todos nós, estudantes de comunicação!!!

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