Texto: Égon Ferreira
Edição: Marcia Leite
Quem viveu durante a Era do Rádio e assistiu ao início da Era da Televisão no Brasil, sabe que poucos programas ficaram na memória das pessoas. Não digo isto, simplesmente, pela questão de muitos brasileiros terem memória curta. Digo isto porque poucos programas são capazes de marcar a história de um país ou da vida das pessoas, como fez o “Repórter Esso”. Começando no Rádio e estendendo-se à Televisão.
O Repórter Esso foi o primeiro radiojornal do país. Surgiu em 28 de Agosto de 1941, na Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Era controlado por uma agência de notícias norte-americana. A produção das notícias, portanto, era dirigida de certa forma a uma propaganda política e ideológica, tendo como alvo de influência, obviamente, a opinião pública e o governo. Suas informações eram, principalmente, ligadas ao modo de vida americano e o que interessava aos Estados Unidos que fosse noticiado. Isto não é nenhuma surpresa, analisando o período histórico, no qual o Ocidente estava sob influência dos Estados Unidos. As pessoas vivenciavam o período pós-guerra, da histórica Guerra Fria.
Foi no início deste mesmo período que nasceu a Profª Clara Corrêa. Ela conta que começou a ouvir o programa do Repórter Esso na sala de estar de casa, onde todos ficavam ao redor de um rádio de válvulas. “Durante minha adolescência, acompanhei ‘religiosamente’ ao programa. E ele começou a ter uma importância muito grande para mim na TV, porque o que me marcou muito foram a imagem e a voz dos repórteres”, diz.
O programa surgiu para falar sobre a Segunda Guerra Mundial e era patrocinado pela “Standard Oil Company of Brazil”, conhecida como ESSO do Brasil e possuía tanta credibilidade que a população só acreditou no fim da Segunda Guerra Mundial após o Repórter Esso noticiar.
Gilson Gomes da Silva, 62 anos, é aluno de Jornalismo do 4° Semestre, nas Faculdades Integradas Rio Branco. Ele relembra como o programa do Rádio e da TV conquistou credibilidade e respeito da audiência brasileira: “Naquela época, nós discutíamos sobre a política e as notícias em casa. As pessoas eram mais politizadas, mesmo sem formação universitária, então era comum fazermos isso na mesa de jantar. O Repórter Esso era um jornal que oferecia para nós tinha um apanhado das notícias do dia. Seu papel era catalizador”, diz, lembrando que o programa reunia muitas informações e transmitia a sensação de que o que era transmitido era a mais pura verdade.
Gilson relembra as frases do início do programa: “Amigo ouvinte, aqui fala o seu Repórter Esso, testemunha ocular da história”, ou "Repórter Esso, o primeiro a dar as últimas”. Ele afirma que quem viveu durante a década de 60, no Brasil, se acostumou a ver todos os familiares reunidos em silêncio, atentos às notícias, e acabava se interessando e se juntando às discussões em família.
Com o seu modo austero e preciso de noticiar, o Repórter Esso fez escola e serviu de modelo para diversos outros programas de notícias que se seguiram, até mesmo na televisão. O Prof. Humberto Lima de Aragão, 65 anos, relembra que “ao chegar em casa, nós parávamos tudo para ouvir o Repórter Esso no rádio. E quando chegou à televisão, também era assim. Havia uma credibilidade muito forte e haviam edições especiais durante o dia, com notícias de última hora. O programa possuía até uma hegemonia, com grandes locutores como Herón Domingues”, diz.
O Repórter Esso terminou suas transmissões no rádio em 31 de dezembro de 1968. Na última edição, transmitida pela Rádio Nacional e pela Rádio Globo do Rio de Janeiro, a partir das 20h25, o radialista Guilherme de Sousa fez a identificação da emissora e dando a hora certa, antes de anunciar: "Alô, alô, Reporter Esso! Alô!". Ao som das tradicionais trombetas, o locutor Roberto Figueiredo entrou no ar, dando as notícias mais recentes e as principais notícias dadas pelo Repórter Esso em 27 anos de atividade.
Durante a leitura das notícias em retrospectiva, Roberto Figueiredo começou a chorar e se emocionar, chegando a um ponto em que o locutor reserva, Plácido Ribeiro, que estava no estúdio na hora do noticiário, seguiu a leitura. Roberto tentou se recompor e, aos prantos, encerrou o último Repórter Esso, desejando uma boa noite e um feliz ano novo. Confira no vídeo abaixo:
http://www.youtube.com/watch?v=cIgSWgWH2kg
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